Dia 05: Filha da Mãe

Linda história de Sororidade: grupo terapêutico feminino

Somos geradas a partir do psiquismo da mãe. E o que isso significa? Que primeiro vemos o mundo a partir dos olhos da mãe, tememos o que ela teme, aceitamos o pai que ela aceita, e cremos nas verdades dela, o que ela diz que não é verdade, se torna não verdade.

Mas quando fazemos o processo de análise, de autoconhecimento, vamos percebendo que muito disso não nos convém, não representa nossa essência pessoal, e assim vamos nos desidentificando desse olhar, que vê o mundo a partir do Complexo Materno. Com essa desidentificação conseguimos nos identificar como EU, e então olhar o mundo a partir de nossos próprios olhos.

Para mobilizar essa questão materna básica, planejei uma atividade com a argila, pois esse material representa nossa origem, do pó, da terra, do útero.

Eu chamo essa atividade de FILHA DA MÃE, e para ela usei: 200g de argila pronta para cada participante, comprada no viveiro de plantas; isopor sucata (tampas de potes de isopor, ou bandeja de isopor usado), palitos de dente e de sorvete. E em seu enredo foram seis fases de desenvolvimento até ativar o diálogo com a criança ferida.

Fase 1: Pedi que todas abrasassem a criança interior dentro uma da outra, sendo um abraço de criança para criança.

Fase 2: Muitas das participantes eram mães, e então falei sobre a mãe inicial, a mãe delas e suas avós, na linha transgeracional.  A medida que elas estavam amassando, tirando as pedrinhas no meio da argila, molhando a mão e umedecendo a massa, sentindo sua textura, temperatura, flexibilidade; contei sobre os olhos da mãe sobre elas e sobre o mundo.

Fase 3: Pedi que fosse representada uma imagem dela como filha da mãe.

Fase 4: Após a materialização, cada uma pôde falar sobre as situações vividas com a mãe, situações de identificação e outras de não identificação.

Algumas nunca haviam pensado sobre a mãe pois sua ligação maior havia sido com o pai, e por isso mesmo foi difícil voltar seus olhos para a relação mãe-filha.

Sobre essas falas me coube ajudar algumas a perceber a dificuldade que sua mãe passava naquele período de vida, e talvez por esse motivo a mãe não conseguiu “ser mãe”. E o processo foi se debruçando lindamente no movimento de compreender a mãe, vê-la como um ser normal, sem superpoderes, pois afinal, “dar a luz” não significa que se tornou Deus, não significa que não sofre, que não existe outra demanda no mundo que não seja ser mãe.

Há como é difícil desidealizar a mãe e parar de reclamar sobre o que ela não deu, ou não pôde dar, ou não queria dar. E somado a esse tema surgiu a questão de comparação de afeto dado entre irmãos.

Sim querido leitor, tem filhos que “são mais fáceis” e outros que “são mais tinhosos” e isso não implica que o amor não exista, mas sim implica na facilidade ou não que a relação mãe-filha estabelece para dar amor.

As mães ali presentes também se colocaram como mãe atuais e refletiram sobre sua relação com suas filhas, e inclusive uma falou: “há como é difícil ser mãe da minha filha, do meu filho é mais fácil”.

Essa fala foi muito boa pois todas que estavam ali eram filhas de uma mãe, e será que essa filha era uma “filha tinhosa” e hoje reclama de não ter recebido algo?

Sim, muitas que se queixaram perceberam que não havia uma contrapartida de sua parte, outras perceberam que “daquela pedra não saia leite”, mas todas ficaram com o olhar sobre a mãe.

Fase 5: Foi então que eu perguntei, agora olhando de outro ângulo para sua mãe, como você vê a filha, como você se sente como filha?

Percebi que as queixas pararam, e se puseram a pensar como poderia atualizar isso “no hoje”. Afinal, a maioria tinha a mãe viva e havia uma chance de limpeza desse laço afetivo ainda em vida.

Fase 6: Pedi que se abrasassem de modo que uma mãe desse um abraço na criança da outra, como um gesto de sentir o amor de mãe e filha. Uma e outra sabendo que  existe a necessidade de via de mão dupla, um aconchego de saber que não estão sozinhas, e que não precisam ser a mulher maravilha para isso.

Dessa sessão saíram como com “uma névoa no ar”, sabe aquela sensação de que vai chover?

E assim foi, na sessão seguinte as participantes começaram a falar sobre como a terapia tem tido efeito em sua vida, e também em seus sonhos. Veja os relatos:

Relato 1: Desde a primeira vez que fizemos a atividade tenho sentido muitos movimentos na vida, agora em espacial com a minha mãe, que eu achava que não tinha “nada a ver”. Sabe quando você coloca boas energias e atrair coisas boas? É isso!

Relato 2: Percebi que meu sono melhorou. Tenho agora sonhos com familiares, e venho com a sensação que tenho alho a resolver, é como se as pessoas estivessem esperando que eu faça alguma coisa.

Relato 3: Estou mais tranquila, a ansiedade diminuiu, e eu estou bastante consciente do que quero, e sei “saber esperar” o que não é urgente, e agora posso cobrar atitudes do que são urgentes para mim.

Gostou? Por sorte esse grupo era favorável, não haviam mãe “terríveis” em seu histórico, ou mães falecidas. Isso facilitou muito o enredo.

Viu como agora as atividades parecem estar reverberando na vida dos participantes? Perceba que após um mês de grupoterapia “as coisas” começam a fazer movimento, se abrindo a novos sentidos, e encontrando novas possibilidades de Ser.

Sim querido leitor, o vínculo terapêutico não é formado de uma hora para outra, é como uma plantinha que precisa ser constantemente regada, cuidada. E ainda temos muito a realizar visto que agora as participantes estão vinculadas ao grupo e ao processo de autoconhecimento.

Vem comigo? Me mande um recado no Wpp.

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