Linda história de Sororidade: grupo terapêutico feminino
Já ouviu falar de Complexo de Édipo? Sabidamente perdendo muito do conteúdo precioso do Complexo de Édipo, vou resumi-lo de modo drástico e dramático: no Complexo de Édipo a filha se identifica com o pai e o filho com a mãe.
Na verdade não é bem assim que acontece, mas é assim que “as pessoas sentem”: a filha é mais achegada ao pai, e o filho à mãe.
E justamente por isso, após trabalhar o Complexo Materno, planejei “colocar o pai no devido lugar”. Brincadeiras à parte, eu planejei trabalhar a visão do pai sobre a filha, visto que é de profunda importância na formação da auto percepção da menina, e ela carrega por toda sua vida. A filha se espelha nos olhos do pai para saber se ela é importante, se ela merece respeito, se ela merece amor, etc.
Eu chamo essa atividade de FILHA DO PAI, e para ela usei: um kit de massinha de modelar colorida para cada participante, comprada em papelaria; isopor sucata (tampas de potes de isopor, ou bandeja de isopor usado), palitos de dente e de sorvete; 1 folha de sulfite e caneta. E em seu enredo foram sete fases de desenvolvimento até ativar o diálogo com a menina dos olhos do pai.
Fase 1: Falei sobre a importância do pai na vida da menina. E já ouvi uma frase: “há não Paula, eu não estou pronta para isso”.
Como senti uma tensão no ar, eu mostrei a massinha de modelar e as convidei a brincar como criança. Inclusive “permiti” a misturar das cores! Então elas começaram a mexer nas massinhas e eu pedi para sentirem a textura, a cheirar, a amassar, etc.
Fase 2: Pedi que fechassem seus olhos e sentissem a música “A filha” de Rick e Rener. Sugiro que você também a escute agora.
Fase3: A partir daí pedi que elas se lembrassem do seu pai, de suas histórias, perguntei “houveram brincadeiras?”, “proteção?”. E então solicitei que fizessem uma imagem que representasse essa menina.
Fase 4: Após a materialização, entreguei uma folha para que escrevessem uma carta ao pai, contando sua vida, desde pequena sendo influenciada pela presença ou ausência dele. Dizer como o olhar dele a ajudou ou não em suas relações com o mundo, com namoro, com seu corpo, com o amor.
Esse foi um momento de tensão, o silêncio pairou, e eu cuidei para que esse silêncio fosse a música da situação. Quando senti que a tensão diminuiu coloquei músicas de criança e de roda.
Fase 5: No momento da fala cada uma pôde dizer como se sentiu com a música inicial, com a ludicidade, e quem quisesse poderia ler a carta.
Sim as cartas foram lidas, uma apoiando a outra nesse momento de resgate. Vi algumas mãos se unirem em respeito e acolhimento.
Fase 6: Agora estava ali a menina, materializada na massinha, e elas poderiam cuidar dela, assim como elas gostariam de ter sido cuidadas.
Fase 7: Comentei que cada uma poderia “mandar” a carta ao pai, poderia ser rasgando, queimando. E elas decidiram rasgar e jogar no lixo, uma a uma foi dando tchau àquele conteúdo doloroso.
Relato 1: Deixo o passado, o medo daquela infância, daquele pai.
Relato 2: Aceito minha vida como é hoje, e compreendo essa criança que teve tanto medo. O medo não existe mais, fui acolhida e amada e agora sabe amar.
Relato 3: Deixo e tomo a consciência que tenho que deixar a insegurança.
Relato 4: Retomo essa coisa de infância colorida.
Esse é um processo de ressignificação importante, em que se transforma “a obra”, em que se ativa O Cuidador Interior, O Grande Sábio ou Sábia, que sabe tudo o que essa menina passou ao longo da vida, e que pode tomar melhores medidas em relação às suas demandas passadas e também as atuais.
Dessa forma pode-se ativar o aspecto masculino saudável, de modo a posicioná-lo à autoproteção, amor próprio, a auto valorização.
Intenso, não? Sim muito! Por isso Cuidador você precisa de Análise, pois para se trabalhar um aspecto em alguém, antes você precisa visitar o seu, caso contrário você não terá forças, intuição, acolhimento, disponibilidade para auxiliar o outro nesse processo.