Linda história de Sororidade: grupo terapêutico feminino
Tendo trabalhado em sessões anterior o Complexo materno (ver texto A FILHA DA MÃE) e o Complexo Paterno (ver texto A FILHA DO PAI), planejei uma sessão em que pudéssemos nos reconstruir. E pois esse desejo escolhi a técnica de mosaico, utilizando EVA.
O EVA é um material barato, simples, e que pode ser utilizado como mosaico visto sua textura esponjosa, e por isso mesmo gostosa de lida. A textura é terna, macia, acarreta uma sensação de bem estar. Eu pessoalmente não gosto de cola quente, pois me queima os dedos, e eu não queria produzir a sensação de queimar, de machucar, pois poderia ser associada negativamente à Construção do EU.
É importante que você Cuidador da Psique pense nos detalhes do manuseio do material, então por isso mesmo você deve experimentar o material antes de oferecer ao outro. Com esse intuito te convido a estar constantemente experimentando técnicas, testando materiais, fazendo você mesmo, estando inteirado do que se pode passar com a pessoa que você está atendendo.
Caso contrário pode ser que a vivência se perca e um vínculo negativo se forme entre você e seu paciente, e isso promova uma desunião, ficando ambos “machucados”. É importante que as atividades que você propõe causem a reflexão e a superação. Atividades que não se findam, que se “estragam” promovem um sentimento negativo, uma sensação de “não faço nada certo mesmo”, ou de “meu terapeuta não dá conta, ele não sabe”.
Fique atento a isso! Estude, faça, sinta, analise.
Então como metáfora do mosaico com EVA “CONSTRUIR O EU” usei: várias cores de EVA picadinho e separados em potinhos unicoloridos; folhas de EVA inteiras; tesoura; cola de silicone líquida; glíter; 1 caderno de desenho para cada participante. E em seu enredo foram quatro fases de desenvolvimento até ativar o diálogo com o Complexo do EU.
Fase 1: O caderno de desenho é um material que entrego no primeiro dia. Eu gosto de guardar as imagens e de escrever no caderno, assim como se fosse um Diário Terapêutico de imagens e reflexão. Assim, ao terminar a terapia o paciente leva seu caderno de recordação, e pode continuar utilizando-o para escrever seus sonhos, fazer mandalas, ou outra atividade que o mantenha conectado a si mesmo.
Fase 2: Coloquei uma música de fundo e pedi para fecharem os olhos e apenas sentir. Música: Fico assim sem você, de Adriana Calcanhotto. Sugiro que você escute agora.
Fase 3: Disse, então, que havia chegado a hora de nos construirmos, de estarmos conectados com nossa essência pessoal. Disponibilizei o material e sugeri algumas possibilidades de começar, como por exemplo escolher uma cor de fundo e depois montar o mosaico encima.
Saiba que a escolha sempre é livre, mas visto que a maioria nunca havia feito um mosaico, dei algumas dicas para quebrar a barreira inicial.
*ATENÇÃO: Essa é uma atividade demorada, então sugiro que você não use muitas fases.
Fase 4: No momento da fala sobre o fazer e a obra em si, recebi falas:
Relato 1: Eu sou tudo isso, altos e baixos. Os círculos representam pensamentos, começam e giram-giram. O centro significa que posso estar em escuridão/dor mas tem luz/solução. Houve crescimento e maturidade, deixei para trás o que me machucava. O brilho é minha essência, sou responsável por quem sou, escolho ser feliz.
Relato 2: Tive dificuldade de começar, mas estou me sentindo uma artista. O mosaico representa várias peças diferentes que formam algo. Representei eu, faltando alguns pedaços, muitas coisas que vão vir, coisa que estou me descobrindo e aprendendo a aceitá-las e a saber lidar com elas.
Relato 3: Meus filhos são reflexo da minha vida, e eu não consigo lidar com eles. Quero deixar de sentir com a mente, e sentir com o coração. Eu não sinto. Não lembro da minha infância, parece que o tempo congelou quando criança e hoje, com minha vida, meus filhos… Eu não sei como vim parar aqui. Me sinto sempre sozinha, sem uma autoestima boa, sem ninguém para contar, não sei o que quero ser. Não sei olhar para mim, não me vejo, como se eu não existisse, estou em branco, vivo no automático.
Percebi que a atividade mobilizou cada uma a seu tempo. Querido leito, recorde que esse grupo é aberto, ou seja, podem entrar novos participantes ao longo do processo, e a participante do Relato 3 estava vindo em seu primeiro dia, e não retornou em outros.
O grupo já estava avançado, com questões já trabalhadas, que prepararam esse momento de Construir o EU, então nesse contexto a nova integrante não se adaptou ao momento do grupo, por mais que as demais tivessem mandado mensagens positivas de apoio. O vínculo de alguém de chega depois por vezes não se estabelece.
Sim, existe toda uma preparação para se chegar ao Complexo do EU, e essa participante não passou pelo processo, então a técnica “não fez sentido”, não a levou a ter novos insights sobre si, ela ficou frustrada e a alma do grupo também.
Coisas “ruins” são boas para aprendermos, e a partir dai pode-se criar novas possibilidades. Por esse motivo eu decidi que o próximo grupo terapêutico será fechado, sem possibilidade de novos integrantes ao longo do percurso. E você que está me lendo pode testar o grupo aberto e o grupo fechado, para saber o que mais sua essência se conecta.
Sempre há a possibilidade de Ser.
Na sessão seguinte as participantes perguntaram sobre a nova integrante, informei a sua não adesão e isso provocou no grupo um sentimento de não ser adequado, com fala “será que não a acolhemos adequadamente?”, e outras “o problema foi que ela não teve a preparação, assim como nós tivemos”.
Bom, realmente foi assim, um aprendizado para mim como facilitadora e uma demanda reflexiva para as demais, “será que sou verdadeiramente aberta?”.
E a atividade também trouxe uma reflexão de uma participante:
Relato: Tive uma semana reflexiva, fiquei vivendo minha vida pensando se poderia ter sido diferente, e percebi que não tem o que mudar. Essa é minha história.
Que linda percepção de que não podemos mudar o passado, e que bem ou mal ele está para nós e nós para ele. Podemos arrasta-lo, podemos odiá-lo, mas o melhor mesmo é aceitar que ele existiu, que não iremos muda-lo, mas que podemos coletar joias/ aprendizados que nos fortalecem, e nos amparam para o hoje e o amanhã.