Linda história de Sororidade: grupo terapêutico feminino
Recebi um comunicado que uma das participantes havia perdido um ente querido, a avó. Não é por acaso que o luto acontece durante a nossa vida, e essa demanda certamente iria mobilizar o grupo. Então preparei uma atividade que possibilitasse o choro e a ablução, a purificação dos sentimentos.
Caro leitor, recordo sempre que você precisa minimamente saber utilizar os materiais que você está disposto ao grupo. Antes de oferecer essa atividade eu testei papeis e modos de pintar com a aquarela. Descobri que sim, consegue-se pintar na folha sulfite, desde que esta seja presa à mesa com fita crepe em seus quatro lados; caso contrário a folha fica toda enrugada. Mas, eu não queria levar a sensação de “prender”, que a fita crepe poderia suscitar. Minha intenção era soltar e lavar, então eu testei com a folha canson, que se demonstrou mais adequada.
E também, de antemão vi vídeos sobre as várias maneiras de pintar com a aquarela, testei, e assim pude oferecer uma técnica facilitada à livre expressão.
E claro, assim como eu já comentei anteriormente, para se cuidar da dor do outro há de cuidar da sua antes. Então eu mesma fiz um processo de ablução, de visitar meus lutos passados, os lutos que estão presentes, e busquei minha purificação.
Para essa atividade preparei um RITUAL DE ABLUÇÃO e tinta aquarela. Foi necessário: uma folha canson 224g/m2 tamanho A4; pincel, tinta aquarela em barra e também lápis de cor aquarelável. E em seu enredo foram cinco fases.
Fase 1: As participantes foram acolhidas e o tema do luto surgiu. Cada uma espontaneamente comentou sobre um luto vivido, de entes queridos e até mesmo de fases da vida anteriores. Falaram também sobre o amor aos avós, e seu papel importante na formação da criança.
Fase 2: Perguntei se alguém tinha medo de água ou de nadar. Todas confirmaram que estava tudo ok. Então as conduzi em uma mentalização, em que se encontravam com um lago, e nele poderiam se banhar.
*É importante saber se alguém tem fobia de água, caso contrário pode-se gerar um ataque de pânico. Saiba que havendo alguém com medo de água eu conduziria a mentalização de outra forma, por exemplo imaginando passar uma toalha molhada no corpo.
Fase 3: As convidei a ir até a pia e lavar as mãos, em um ritual de purificação. A medida que a água a tocava, ela estaria molhando e lavando também os sentimentos interiores.
Fase 4: Disponibilizei os materiais para a pintura, com música de água correndo.
Fase 5: No momento da fala obtive alguns relatos:
Relato 1: Estou passando pelo luto da minha avó. Esse foi o pior que já passei, eu não aceitava a ideia dela morrer. A carta da estrela que desenhei representava ela, em sua direção, e a espiritualidade das cores da carta de sucesso. Mas a morte esconde algo, e eu estou tentando me encontrar nisso tudo que estou passando;
Relato 2: Eu levo a partilha desse momento. Saiu daqui melhor, mas inteligente, mais consciente sobre os ciclos da vida. A Árvore que desenhei representa a vida, e me sinto muito bem.
Como vê nos relatos, não houve choro. Eu imaginei que seria uma sessão de lavação de alma, mas não foi bem assim. As vezes acontece de planejar algo, se preparar para esse algo, e acredito eu que por ter feito tudo isso anteriormente, acabei limpando a minha alma e a alma do grupo.
Nesse dia estávamos aquecidas, unidas, amorosas e esperançosas, ainda que com o tema luto vigorando.
O luto revela coisas, e principalmente nos mostra que a vida há de ser vivida.