Linda história de Sororidade: Grupo Terapêutico Feminino

Antes, Durante e Depois

O antes

Relembrar essa saga junto a essas mulheres é como um reviver e reaprender as técnicas e possibilidades de análise na arteterapia. Para mim, escrever e reescrever é o início de uma auto-observação como terapeuta, com fim em ser cada dia melhor e com menos pontos cegos.

Para você entender o porquê de um grupo terapêutico feminino, precisamos retomar o princípio de tudo, o desejo, o meu desejo. Eu sou uma ávida arteterapeuta, cheia de ideias e de energia à ação. E desde o ano de 2018 eu vinha no empenho de iniciar um grupo terapêutico. O primeiro foi na minha mini sala de atendimento, com quatro cadeiras e uma mesinha apertada, e eu atendia profissionais que queriam conhecer a Arteterapia, e ao mesmo passo que fazíamos atividades para o autoconhecimento.

Mas essa proposta não me interessou mais, afinal eu não queria ensinar a Arteterapia, meu desejo era avançar no processo de autoconhecimento em grupo, sem “racionalização”.

Então, fica a dica para você maravilhoso leitor: o desejo primeiro é o do terapeuta, sem seu desejo nada vingará. Segundo esse conselho que te dou, saiba que para se criar um grupo primeiro você deve focar no seu eu, naquilo que te move; caso contrário, você mesmo vai dizer frases do tipo: “não deu certo”, “as pessoas não querem”, etc.

E voltando ao meu desejo, para realiza-lo eu tomei coragem e aluguei uma sala maior, adquiri mais moveis, fiz uma revolução na minha vida profissional. Tudo isso me deixou esperançosa, mais ativa. Inclusive fiz um processo de seleção para contratar uma estagiária que iria me ajudar na divulgação do grupo e ser a observadora ativa das ações. Foi ai que conheci a doce Nayara, que foi minha estagiária por um ano, e sobre ela poderei falar em outro contexto.

A divulgação para mim sempre foi algo difícil, e Nayara me ajudou muito, com sua criatividade, disponibilidade de aprender junto a mim e seu empenho.

O durante

Conseguimos formar duas turmas, foram mais de vinte pessoas que passaram pelos grupos. Digo “passaram” pois algumas vieram apenas na primeira sessão, ou no primeiro mês, mas a maioria se vinculou e vinha regradamente.

A sequência das sessões está descrita em outros textos, e neles você verá a aplicação de técnicas, falas das participantes e análise feita por mim de todo esse movimento. Então você aprenderá muito, assim como eu mesma aprendi, pois essa foi a primeira vez que fiz um grupo arteterapeutico na mina clínica.

Eu já havia realizado grupos em ONGs e Instituições da Assistência social, com mulheres em vulnerabilidade; mulheres grávidas; mulheres em reabilitação à dependência química; e com homem em reabilitação em dependência química e em situação de rua; e também com adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa. Sim, foram muitas e valiosas experiências, que poderei relatar em outros textos.

Mas, me deparei com o setting da clínica, particular, com demanda livre, e por isso mesmo com outras peculiaridades, do tipo: as pessoas vem fazer terapia em grupo por quê? Essa é uma pergunta diferente à das ONGs, pois nestas o público já está lá por uma demanda outra; e porque viriam à minha clínica? Quem viria?

Percebi que as mulheres que me procuravam e aceitaram o grupo eram pessoas que gostavam de se unir, em sororidade; e que não buscariam psicoterapia individual, então o grupo foi sua porta de entrada e permanência.

Sabe que relatando isso me dá vontade de formar novo grupo… mas isso fica para logo mais.

A proposta que apliquei em 2019 foi uma terapêutica contínua, sem fim, com um grupo aberto, podendo entrar novos participantes ao longo do processo, e as técnicas foram pensadas a partir da própria demanda do grupo. Bonito de se falar… mas foi complexa sua evolução.

Com essas reflexões eu consigo mensurar um próximo grupo, mas em outro molde, com um setting mais completo, com número e sessões fixas, e por isso mesmo com dia de início e término contratados, pacote de valores, um grupo fechado, sem possibilidade de entrada de novos participantes, e um tema fio condutor.

A experiência de um facilitar um grupo terapêutico aberto me gerou uma vontade de experimentar um outro, fechado, que eu ainda não conheço. Vê a avidez da minha personalidade? Ainda que esse grupo tenha sido um sucesso, quero experimentar também de outras formas que possam me levar a tocar as pessoas e a ir cada vez mais fundo no processo de autoconhecimento. Essa é uma ideia que fica para próximo momento.

Por isso é bom planejar, fazer, escrever, reescrever, para fazer novas leituras e gerar novas possibilidades de ser e de atuar.

O depois

Na finalização do grupo vieram frases saudosas do tipo “há, agora que me encontrei”, “vai fazer falta”, etc. são frases que me promovem o entendimento de que o tempo, a energia, e a alma do grupo se fizeram valer.

Desse grupo saíram pessoas mais confiantes, mais auto observadoras, e inclusive algumas se tornaram amigas em sua vida pessoal, e até minhas amigas. Considero esse um fator positivo, principalmente para aqueles que tem dificuldade de formar novos vínculos.

E como eu mesma disse no O durante: “o grupo seria contínuo”; mas como sabe-se, os ciclos se encerram, e esse grupo se encerrou após dois ciclos temáticos, e ele foi se extinguindo naturalmente, partindo das sincronicidades da vida, e também da resolução das demandas particulares de cada um.

Dentro de um grupo há uma alma comum, e afinal essa alma se forma no entrelaçar da demanda particular que vigora em cada participante. E a medida que essas demandas particulares são sanadas, a alma do grupo transmuta. E quando ela reverbera para a saúde, sabe-se que o grupo pode se encerrar, e quem sabe ser formado em outro momento.

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