Você já ouviu falar desse ciclo? VIDA-MORTE-VIDA?
Então te convido a compreender melhor esse ciclo que acontece com todos!
Você está lendo mais uma descrição da Oficina dos Alunos VIP da do Curso “O cuidador da Psique”, que hoje teve como Facilitadora: Regina Clarte
(Psicóloga, Biblioterapeuta, Arte-educadora e Contadora de histórias), e vamos trabalhar o Capítulo 5: A mulher esqueleto.
Assim como todos os contos de tradição oral, essa história é carregada de símbolos e traz inúmeros arquétipos que compõem uma análise que tanto pode ser projetiva quanto introjetiva.
A narrativa revela símbolos dos movimentos dentro de uma única psique, onde tudo e todos no enredo, todos seus elementos são representações e metáforas de nossa própria subjetividade psíquica.
E embora Clarissa Estés conduza a análise tendo como norte a narrativa enquanto símbolo do movimento dentro de uma relação amorosa a dois, dependendo do caso apresentado pelo paciente que cuidamos, podemos sim, apresentar os processos trazidos por esse conto como representações dos mecanismos nas relações entre o ser e o mundo.
O Conto e o Símbolo Psíquico
Ou seja, analogias de nossos relacionamentos em várias esferas, não apenas amorosa, mas também social, familiar ou profissional, por exemplo, pois são todos movimentos inerentes às etapas da evolução de uma vida humana.
O grande ponto da história é a natureza do ciclo VIDA-MORTE-VIDA em nossa trajetória existencial. Então, no decorrer desse nosso desenvolvimento, a mulher esqueleto é sempre o elemento que surge na relação entre dois polos, em uma dualidade que assusta, que mete medo, que causa um sentimento de ameaça e mesmo de luto, de perda, de fim.
Ainda que o tema da Morte nos inspire aversão e muito embora busquemos evitá-lo na maior parte do tempo, acontece de presenciarmos esse ciclo de morte e renascimento de modo cotidiano, se estivermos dispostos a entender as metáforas apresentadas pelo universo dentro e fora de nós mesmos.
Fatos como a passagem do tempo, o dia e a noite, as quatro estações do ano, as fases do desenvolvimento nos seres orgânicos e mesmo inorgânicos nos dão indícios de que a morte se apresenta como mecanismo de transformação.
Os ciclos da lua, os menstruais, a menopausa, andropausa, as mudanças de carreira ilustram movimentos de transformação voluntários e involuntários. Muitos seguidos de conflito, justamente pela recusa em encarar a mulher esqueleto.
A propósito, esse conto é tão rico em possibilidades de trabalho que foi bastante difícil escolher algo que fosse fundamental e que coubesse no espaço de tempo de 1 hora e meia de vivência. Dentre vários possíveis caminhos, então, escolhi abordar 2 aspectos cruciais para o desenvolvimento do enredo:
- a linha que enrosca, que enreda, que prende como num casulo para dar cumprimento ao ciclo VIDA-MORTE-VIDA
- O coração que é o centro, a essência da psique, finalmente integrada
Considerando que além de todos os aspectos da psique, a atmosfera do conto igualmente remete à corporeidade, à matéria, fazendo menção a ossos, carne, coração, tambor, ritmo, música, os procedimentos e atividades propostos por essa oficina buscam trabalhar também a consciência corporal e o exercício de presença.
Materiais
Linha de lã, ou barnante;
Uma caixa de pizza;
Revistas;
Tesoura;
Cola de silicone líquido;
Espelho;
Foto sua;
Missangas e outros adereços que tiver (fitas, laços, flores, etc.)
Fases
Fase 1: Aquecimento: Sentindo o próprio corpo
- Pedir para que os participantes fiquem descalços e que mexam seus dedos dos pés.
- Então, pedir para que massageiem seus pés. Sintam seus ossos dos pés, calcanhares, tornozelos, etc.
- Massageiem suas canelas, sintam a extensão desse osso. Seus joelhos, a rótula dos joelhos. suas articulações.
- Massageiem suas coxas, seus quadris.
- Pedir que fiquem em pé, que sintam a firmeza, a temperatura, a textura do chão sob seus pés
- Que voltem atenção aos quadris, então que sintam suas mãos tocando e massageando esse ponto, subindo pela coluna. Sintam a espinha dorsal.
- Pedir que torçam a cintura sentindo a extensão de sua carne.
- Pedir que suas mãos massageiem os braços, subam pelos ombros. Sintam suas omoplatas, que são como pequenas asas.
- Pedir que suas mãos subam pelo pelo pescoço. Vão para o rosto. Sintam a cavidade dos olhos. O crânio que abriga o cérebro.
- Que sintam suas mãos deslizando pelas laterais dos braços e, finalmente, se permitindo um auto-abraço.
- Nesse auto-abraço podem respirar bem fundo e se sentar novamente. E estão prontos para abraçar a história!
Fase 2: Leitura compartilhada do conto
Fase 3: A linha que enrosca…
- Pedir que respirem fundo e que peguem o novelo de linha. Que olhem para ela atentamente
- Que sintam sua textura, observem sua cor. Será que a cor muda quando voltada contra a luz?
- Lembrando sempre que o que está dentro, está fora… E se por acaso enrolarem essa linha em sua mão? Lembram do conto? Como é se sentir enrolado?
- Dizer para eles: “E quando você enrola sua mão você olha para o chão e vê seus pés. Como é enrolar seus pés? Seus tornozelos? Vc enrola um e outro…
- Vai se lembrando de como se sentiu assustado quando viu a linha surgindo na sua vida. Quantas vezes essa linha te enredou? Te enrolou?
- E vai subindo e enrolando e você até pode sentir que vai morrer…”
TOCAR UMA MÚSICA ALEGRE PARA QUE TODOS OUÇAM – SUGESTÃO: COSTURA DA VIDA DE SÉRGIO PERERÊ- ESSA CANÇÃO MARCARÁ O TEMPO PARA O TÉRMINO DESSA ATIVIDADE COM O CORPO
- Continuar conduzindo: “De repente, você começa a escutar uma música e te dá uma vontade de dançar… E cada vez mais vontade de dançar!
- Então você vê a tesoura e corta a linha do novelo. Corta essa linha e bota o novelo de lado.
- Você tem o controle da linha agora. A música te convida pra dançar!
- Você sabe se desenrolar. Você sabe! Você vai se desenrolar, vai pegar essa linha e vai brincar com ela, vai dançar com ela”
- Depois de desenrolada, pedir que segurem a linha nas mãos fechadas em concha, então coloquem-na junto ao peito, fechem os olhos e sintam o coração pulsando. Respirem fundo e concentrem-se nas batidas e no som do coração.
- Então digam baixinho falando para si mesmo: Eu olho para tudo que me aconteceu, eu acolho tudo que me aconteceu, eu aprendo com tudo que me aconteceu.
- Pedir para respirarem fundo novamente e colocarem a linha ao lado, com cuidado. Vamos usá-la depois.
Fase 4: O coração
- Agora vamos fazer nosso coração que pulsa, que sente, que fala. O coração é o centro de nossos mecanismos físicos, psíquicos e espirituais. É nossa essência e vamos representá-lo em círculo integrativo como uma mandala.
- Pedir para folhearem a revista e arrancarem as páginas das figuras que mais lhes chamarem atenção. Sem pensar ou racionalizar essa busca. Deixem que as imagens lhes capturem o olhar. Pode ser pela cor, pelas formas, pela impressão que lhes causam. Apenas arranquem a página.
- O ato de arrancar a página que será usada para compor a mandala também é uma referência ao processo VIDA-MORTE-VIDA.
- Explicar que usarão as imagens para compor o espaço de sua mandala até o centro, onde deverá ser colado o espelho ou a fotografia.
- Poderão recortar as figuras separadamente com uma tesoura ou mesmo com as mãos. Ambos os modos produzirão um bom efeito. Poderão encaixar imagens sobrepostas como em um mosaico, se quiserem.
- Dizer que devem se sentir livres para trabalharem suas composições do jeito que desejarem. Apenas prestem atenção aos sentimentos que lhes vem com o corte, recorte e a colagem em cada figura. Reflitam nesse momento no porquê de suas escolhas e também se existe algum sentimento forte ou sutil ou mesmo alguma sensação que aparece no corpo durante esse processo.
- Enquanto confeccionam a mandala, se possível colocar para tocar outra música, agora suave, ao fundo.
Fase 5: A integração
- Depois de feita a parte da colagem das imagens e do espelho ou foto, bem como das miçangas e outros adereços escolhidos, pedir que peguem a linha que tinham deixado ao lado e a coloquem para fazer parte de sua composição na mandala.
- Podem fazer os desenhos que quiserem com a linha sobre a mandala. Podem usá-la também para circular a borda como uma moldura. Também aqui devem se sentir livres para se expressarem como quiserem.
- Ao incorporarem a linha, estarão integrando as sombras às luz e ressignificando algo que tenham sentido como negativo em um momento de fragilidade emocional.
- Ao final de tudo, poderão conversar sobre suas mandalas. Apresentá-las, falarem sobre suas escolhas, impressões, sensações. Conversarem sobre o conto e como ele reverberou neles e em seus trabalhos.
- Essa conversa poderá ser retomada em sessões posteriores ou sempre que surgir a necessidade.
Alguns Relatos

Patrícia (Cuidadora da Psique)

Luciana (Cuidadora da Psique)
Conclusão
A ideia dessa proposta é que os participantes percebam que o ciclo da morte está dentro do ciclo da vida e que ambos são opostos complementares e que essa relação pode ser dialógica e não dialética.
Quando olharem para o espelho ou para a fotografia bonita que está no centro da mandala, se lembrarão do ciclo natural da vida-morte-vida, do ser divino que são, do seu Self. Mas também que, justamente, as dores, marcas e cicatrizes que carregam em seu percurso, contribuíram positivamente para a construção de quem são hoje.
Assumir isso possibilitará que façam escolhas conscientes e nutram compaixão para consigo mesmo e para com o outro, em todas as suas relações (não só românticas, mas tb sociais, familiares, de toda ordem) se tornando mais propensos a encararem a mulher esqueleto cada vez que ela aparecer em uma relação sua com o mundo.
Assim, provocamos nos participantes a reflexão de que em diferentes etapas e instâncias da vida, nos deparamos com situações em que somos confrontados com a necessidade do desapego à hábitos, posturas, convicções, relações.
E é bem nesse momento que devemos decidir sobre o que, exatamente, deve viver e o que, exatamente, deve morrer em nossa existência. Mas apenas nos apropriando desse poder de compreensão de que é assim mesmo o processo, é que estaremos nos aproximando do entendimento sobre a complexa e, aparentemente, paradoxal ideia de que “ da morte, nasce a vida”.
Afinal, morre o velho para dar lugar ao novo.
FIM