Minha avó está Morrendo…

Você já reparou que os ânimos das pessoas se exaltam quando tem alguém idoso precisando de cuidados na família?
Enquanto o idoso está com autonomia, está tudo em paz. A gente visita, manda mensagem, a consciência está tranquila.
Quando o idoso perde sua autonomia, os ânimos já se esquentam porque começamos a ter que agir, atuar. Em verdade adoramos cuidar das nossas vidas, amamos cuidar dos filhos, mas quando se trata dos idosos a nossa mente não aceita tão bem.
Parece que se quebra uma imagem! Provavelmente uma imagem de “herói”, de força, de que aquele idoso é maior que eu.
Em realidade ele sempre foi e sempre será maior que você, hierarquicamente ele é maior.
E como lidar com a emoção abalada de ver essa pessoa maior perdendo sua autonomia? E muitas vezes perdendo quem ela foi?
A mente se depara com duas imagens: aquela vivida no passado, e a dos dias atuais.
Definitivamente chegou o momento que você pode ter se recusado a fazer toda a vida, a desidealização (deixar de ser ideal para ser real) dos seus pais.
E mais, como você não desidealizou você continua unido a ele, identificado, você não sabe ainda quem é você é quem é ele. Estão colados.
Estando colado, tudo o que ele diz te afeta.
Estando colado, tudo o que “dói” nele, “doi” em você.
E quando alguém negligência seu idoso, você sente como se fosse em você. E se sente raivoso ou triste, mas de qualquer forma impotente.
A negligência que vivemos na nossa infância pode nos deixar impotente perante as adversidades atuais.
Surge aí mais uma dor
A dor de não ter curado a negligência que te habita até hoje.
E como ter certeza de que te habita?
Veja seu comportamento:
Quando seu idoso precisa de algum serviço e você não pode fazer, isso dói. E você imediatamente pensa ou fala: mas e fulano não pode? Ele não se importa?
Essas são frases típicas de quem recebeu a negligência e não a superou!
Projeta/ Despeja/ Cria expectativa nos outros da possibilidade de solução para a sua própria dor.
Curar a sua própria dor, essa é a missão.
Aí tudo se resolve!
A dor da negligência se cura, e se torna Ação, Proteção, Prontidão, Amor, tanto para as adversidades que te acometem, como para as dos demais que você ama.
A dor da separação filho-pais se cura, e você se torna um indivíduo com identidade própria. Vive a sua realidade, não mais a realidade do outro. É grato pelo ensinamento da vida compartilhados, e toma as próprias decisões para sua vida, sem culpa, sem mágoas, sem raiva ou vingança.
A dor da desidealização (tornar real os pais, assim como seres humanos normais) se cura, e você pode também ser um ser humano, sem sua própria idealização de “salvar o mundo”, ou de nunca envelhecer, ou de merecer receber algo pelo qual não trabalhou.
Veja quantas coisas mudam.
Você não depende afetivamente mais do outro, e assim se torna responsável por sua existência na Terra.
Agora sim vem a pergunta importante:
O que você quer fazer com sua existência?
Se seu idoso morrer hoje, você terá cumprido sua existência?
Se sua resposta automática foi não, é porque não mesmo! Não minta para você.
Reveja o que sua existência exige.
Se seu idoso morrer daqui 10 anos, você quer ter vivido o que com ele?
Decida o que você quer viver e pare de dar desculpas de distância, dinheiro, tempo, mágoas, blá blá blá
Você decide! Ou você prefere seguir negligente com você e com seu idoso?
Se decidir ser negligente você está decidindo se manter no sofrimento, na raiva, na tristeza, na impotência, na loucura.
Eu decido não ter pena ou qualquer outro sentimento ruim sobre você que decidiu ficar no sofrimento. Eu te vejo, Eu sou Eu e Você é Você, e estou sendo ativo, jamais negligente comigo e com você.
Se você “precisa” que eu tenha dó de você, saiba que você está exigindo que a negligência se mantenha. Eu não aceito, obrigada.
Todos aqui somos adultos, e se precisar de ajuda procure um Psicólogo, ele é o profissional certo.
E se depois de ler esse texto decidir viver sua existência e sua responsabilidade, eu estou aqui para vivermos juntos.
Recado de uma #cuidadordapsique que sim está passando por esse dilema em sua família.
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